Tem uma orientação básica que eu dou para os cuidadores que eu acompanho, que é: nunca confronte a pessoa com demência. Não bata de frente, “eu preciso sair”, “eu vou para a minha casa” ou “eu acabei de encontrar com o meu pai”, sendo que o pai já morreu, “eu quero vê-lo de novo”, e aí às vezes, a família “para com isso! Seu pai já morreu, já morreu há 20 anos, não está aqui”, aí a pessoa pergunta de novo.
Então, a partir do momento que a gente tem isso na cabeça, isso tem que valer para tudo, por quê? A pessoa com um quadro demencial, ela não vai guardar essa informação recente, ela vai repetir novamente. Se ela fez algo que o familiar fica irritado ou que pode trazer riscos para ela de alguma forma, porque ela quer repetir e é algo que ele não pode acompanhar, o ideal é, tirar o foco da pessoa dessa atividade repetitiva, dessa linguagem repetitiva com outra atividade que possa ser significativa para ela. Então na hora que ela tiver repetindo uma coisa ou que ela tiver feito várias vezes a mesma coisa e continua insistindo para fazer de novo, você diz “legal! A gente já faz, mas vem aqui ver isso aqui comigo, pega aqui essa roupa”, “vamos dar uma volta ou vamos ver seu álbum de fotos”.
Então tentar sensibilizar esses cuidadores…eu acho que está no lugar do cuidador, exige também deles uma sensibilidade que vai se aflorando muito. Então no início, eles têm uma dificuldade muito grande de entender como eles devem lidar, por que que essas coisas estão acontecendo, alguns deles, muitas vezes, acham que é pessoal, “ela não gosta mais de mim” ou “ela disse que eu estou mentindo” ou “que eu estou roubando”, e assim, mostrar para as pessoas que nada disso é pessoal, isso está relacionado aos sintomas da doença e a medida que ela vai lendo, se informando, trocando por meio dos grupos, acessando informações corretas, acessando informações realmente que possam orientá-la, ela vai tendo uma sensibilidade, um olhar diferenciado, que com o tempo ela vai aprendendo ali a lidar.
Hoje eu brinco, nos grupos que eu coordeno, grupos de apoio, eu fico ali meio que de suporte e os cuidadores, muitas vezes, entre eles se orientam, né?! “Olha, quando acontece isso, faz tal coisa que dá certo”, então eles vão se apropriando também de algo que eles vivenciam na prática e que ao longo do tempo, por estarem sendo acompanhados por nós há muito tempo, eles acabam aprendendo realmente. Então, não confrontar, sempre tentar ter um ambiente tranquilo e, esse ambiente, é um ambiente físico e também um ambiente humano. Então se é uma casa que está com muitas crianças, crianças fazendo barulho, isso pode deixar essa pessoa mais desorganizada.
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